15 canções para 15 direitos

por Rui Santos

No dia 10 de dezembro de 1948, a ONU (Organização das Nações Unidas) publicou a Declaração Universal de Direitos Humanos, que estabeleceu metas e princípios gerais de orientação aos países sobre a efetivação e implementação de Direitos Humanos a todas as pessoas, com o objetivo de se perseguir um cenário de paz. 

A Carta surgiu logo após o término da Segunda Guerra Mundial e as cicatrizes dos conflitos e o horror das atrocidades cometidas a milhões de pessoas ainda estavam vivas na memória geral. A Declaração recupera, mais uma vez os lemas de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa como base para a formulação dos artigos, que versam sobre direito à paz, ao desenvolvimento, ao trabalho e outros imprescindíveis para o desenvolvimento humano com igualdade. 

Nos últimos 74 anos, novos cenários exigiram a formulação de novos pactos de compromisso, entre eles os pactos de 1966 que tratam de direitos civis e políticos, sobre direitos econômicos, sociais e culturais e sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial. Todas amparadas pela consagração do principio da autodeterminação dos povos e no contexto do intenso e, muitas vezes, violento processo de independência das então colônias europeias na África e na Ásia. 

Outros temas também mereceram a atenção da ONU em inúmeros tratados, pactos convenções e revoluções, valendo citar o Pacto sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, em 1979, e a Conferências sobre Proteção do Meio Ambiente em Estocolmo (1972) e no Rio de Janeiro (1992).

Nesse período, o sistema de proteção a direitos humanos recebeu inúmeras críticas e sugestões de melhora. Mas é evidente que o seu papel como promotor dos direitos humanos e da democracia é essencial. 

Por isso, selecionamos 15 canções para 15 direitos para não apenas celebrar esta data, mas também para reforçar o sentimento de que tais direitos nunca devem ser esquecidos. 

Vamos a elas: 

1 – Imagine (John Lennon) – Direito à paz, liberdade de credo, fraternidade e outros

A canção do ex-beatle John Lennon pode ser considerada a síntese dos princípios da declaração de 1948. Em meio ao cenário contemporâneo, onde a tecnologia ampliou a letalidade das armas e ainda persistem conflitos de ordem geopolítica, religiosa e cultural, Imagine soa como uma utopia. Mas, mesmo assim, é uma belíssima mensagem de apoio. libelo utópico do ex-beatle é um convite ao desejo sempre presente, ainda que muitas vezes considerado ingênuo e impraticável, de uma ordem mundial onde as diferenças de religião, cores e de posições sociais não impedem a realização da paz:

2 – La Carta (Violeta Parra) – Direito à liberdade de associação, liberdade sindical e a um trabalho digno 

Violeta Parra, conhecida artista e folclorista chilena, retrata a violenta reação das forças do Estado contra uma greve. Nesta canção poderosa, a famosa artista chilena relata o embate entre sindicatos justos e a opressão de empregadores. 

3 – Canção do Sal (Milton Nascimento, int. Elis Regina) – Direito a trabalho digno, à infância e contra o trabalho infantil

Nesta canção, composta por Milton Nascimento, descreve a satisfação do trabalhador do sal em conseguir oferecer uma vida digna à sua família e condições para que seu filho tenha uma infância onde a única preocupação é brincar e estudar. o desejo por um trabalho digno, que possibilite que as crianças façam o que têm que fazer: estudar e brincar. 

4 – Hurricane (Bob Dylan) – Direito a um julgamento justo, baseado no devido processo legal e contra o racismo 

Bob Dylan conta nesta extensa canção a absurda história do boxeador peso-médio Rubin Carter (1937-2014), o “Furacao” que, em 1966, foi condenado à prisão por um assassinato que ele não cometeu, tendo saído do presídio e sua pena anulada apenas em 1985, quando se provou que nem ele, nem seu amigo John Artis, igualmente condenado, não estavam no local do crime. Sua prisão interrompeu sua carreira, que estava em ascensão. Até sua morte, Carter tornou-se ativista no combate ao racismo e contra prisões injustas. 

A história de Rubin Carter também foi contada no filme Hurricane, interpretado por Denzel Washington. Infelizmente, o filme não está disponível em streaming. A canção que desmascara um processo judicial baseado em falsas provas e em racismo, é repleta de termos jurídicos, para os estudiosos em inglês. 

6 – Mulher – (Erasmo Carlos, Narinha) – Direitos das mulheres

As mulheres conquistaram um protagonismo nas relações sociais impressionante durante o século XX, desde o direito ao voto, a partir do início do século, até ascender e conquistar empregos antes reservadas aos homens. Mas ainda falta um longo caminho, agora que começa-se a intensificar a luta pelos direitos reprodutivos, direito ao corpo, equiparação salarial (com destaque para mulheres negras, que ocupam o último lugar no ranking), proteção contra feminicídio, estupro, etc…Nos anos 80, Erasmo Carlos (1941-2022) compôs uma música louvando a condição da mulher, tirando-a do esteriótipo de “sexo frágil” e a alçando ao seu importante papel social. 

7 – Asa Branca (Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira) – Direito a uma atividade digna 

Este clássico, lançado em 1947, é o resumo do drama que sempre acometeu o povo nordestino e que deveria estar atendendo aos direitos a uma atividade digna. É o lamento de um povo que, por falta de condições básicas de infraestrutura, são forçados a migrar em busca de um sonho melhor, mas sofrem com um preconceito nunca visto.

8 – Gente (Caetano Veloso, int Maria Bethânia) – Direito à vida digna / combate à fome

Esta música de Caetano Veloso simplesmente é um resumo do que todos merecem. E tudo coberto pelo sistema de proteção de Direitos Humanos.

9 – I was born this way (Lady Gaga) – direitos sexuais, sobre o próprio corpo

Hit lançado por Lady Gaga, “I was Born this Way” em um período em que a liberdade sexual, sobre o próprio corpo, de lutar para ter um corpo que corresponda aos instintos e desejos individuais e a total liberdade sexual, sem obedecer convenções. Uma revolução ainda em curso. 

10 – Saudosa Maloca (Adoniran Barbosa) – direito à moradia digna  

A letra conta o dia de uma desocupação. Assunto ainda sem solução adequada e que contribui para o aumento da submoradia e da falta de casas dignas. 

11 – Liberdade, Liberdade ( Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir), direito à liberdade

Samba enredo da Imperatriz Leopoldinense, que dispensa comentários. Ela fala por si mesma e é uma mensagem inconfundível. 

12 – Milagre dos Peixes (Milton Nascimento / Fernando Brant) – Proteção ao Meio Ambiente 

Antecipando o auge do discurso de proteção ambiental, esta canção fantástica interpretada por Milton deixa nas entrelinha um lamento pelo esquecimento ao básico do meio ambiente. Simplesmente ouçamos

13 – Pedaço de mim (Chico Buarque / Chico Buarque e Zizi Possi) – Direito contra a tortura 

Sim, é uma das músicas mais tristes do cancioneiro brasileiro, talvez mundial. Chico Buarque a compôs para que a dor de Zuzu Angel (1921-1976), calada pela ditadura militar ao reclamar o corpo e o que ocorreu com seu filho Stuart Edgard Angel Jones (1946-1971).  

14 – We are the world (Michael Jackson e Lionel Ritchie / Vários artistas) – Combate à Fome e direito à Fraternidade

Em 1985, uma grande fome atingia novamente a Africa, sobretudo a Etiópia, provocando reações diversas ao redor do mundo. Artistas de projeção norte-americanos se reuniram e compuseram este hino que marcou a década e quem cresceu nesta geração, como forma de conscientização e também de captação de recursos para quem estava com a vida por um fio. 

15 – Miss Sarajevo (Brian Eno · Bono · Adam Clayton · The Edge · Larry Mullen Jr / U2 e Luciano Pavarotti)

Depois da queda do Muro de Berlim e do fim da União Soviética, todos estavam convencidos de que a guerra, pelo menos na Europa, estava superada, quando eclodiu o violento conflito separatista na Ex-Yuguslavia. Iniciativa da Banda U2 e do cantor Luciano Pavarotti resultou nesta belíssima canção, também criada para conscientizar e arrecadar fundos para as vítimas de guerra. 

https://www.youtube.com/embed/51DMGjup6h4  (Peço perdão à nova geração, mas a lista foi pensada baseada no meu repertório cultural. Com certeza, faltarão exemplo de artistas recentes que protestam por direitos em suas canções. O espaço de respostas a este artigo é para vocês contribuírem com o repertório de vocês) 

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