Ed Moraes celebra 20 anos de carreira com a volta do espetáculo Eu Não Sou Harvey – O Desafio das Cabeças Trocadas

Em resposta à triste realidade do Brasil atual, país que mais mata a comunidade LGBTQIA+ no mundo, o solo Eu Não Sou Harvey – O Desafio das Cabeças Trocadas, idealizado e interpretado por Ed Moraes, inspira-se na figura de Harvey Milk (1930-1978), o primeiro político dos EUA a se assumir homossexual e um dos principais ativistas na luta pelos direitos humanos.

A peça, escrita e dirigida por Michelle Ferreira, volta em cartaz no Centro Cultural São Paulo em temporada de 15 de fevereiro a 3 de março, com sessões de quinta à domingo. Em seguida, o espetáculo engata temporada no Rio de Janeiro, de 8 a 31 de março, no Teatro Municipal Café Pequeno.

Em cena, um ator que aceitou o desafio de viver o ativista percorrerá uma trajetória inusitada, do Brasil colonial até os Estados Unidos de 1978, tentando provar uma tese sobre esse assassinato. Sobre a idealização da peça, o ator Ed Moraes conta que passou por um período de crise criativa em 2014, quando não conseguia mais encontrar algo na dramaturgia que reverberasse dentro dele.

“Decidi falar do primeiro político assumidamente gay dos EUA a ser eleito, um agente transformador e ícone mundial do movimento LGBTQIA+, que teve apenas 11 meses de mandato e que foi brutalmente assassinado. Não preciso nem dizer que essa era a ponte que ligava São Francisco (Califórnia) de 1970 ao Brasil atual e seu ranking mundial de assassinato à comunidade LGBTQIA+. Não dá pra ver nosso país alcançando esse posto e não fazer nada pra tentar refletir e problematizar sobre isso. Foi então que, anos depois, os caminhos me levaram até Michelle Ferreira, que já tinha escrito outra peça sobre homofobia, Tem alguém que nos odeia”, explica.

O espetáculo estreou em fevereiro de 2020, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

A encenação e o texto de Michelle Ferreira não têm a proposta de reconstruir de maneira factual e cronológica a trajetória de Milk. Ao invés disso, partem de vários símbolos e de cenas bem dinâmicas para traçar paralelos entre a figura do ativista norte-americano, a realidade brasileira e os processos históricos que levam a humanidade a cometer atrocidades como essa.

“Eu diria que o solo é um passeio por alguns pensamentos econômicos, científicos e históricos que permeiam os últimos séculos da humanidade. Vivemos em um mundo complexo capitalista e temos que saber da nossa História e de onde as coisas vêm e por que elas acontecem. Então, a ideia é, através desses processos, contar por que uma coisa que parece impossível ou ridícula foi possível e se não tomarmos cuidado voltará a acontecer. E para mim era muito importante falar não apenas da vida de uma pessoa, mas dos processos históricos de toda a humanidade”, revela a diretora e autora Michelle Ferreira.

A encenadora ainda diz que a direção é toda pautada pelo trabalho do ator. “As referências da encenação são muito minimalistas. O foco desse trabalho é o Ed Moraes e o texto que o atravessa. É nisso que eu acredito sempre. O teatro acontece por meio do ator, na relação entre ele e a plateia. Em cena, tudo é um jogo. Ed joga com a luz, com o som e com a plateia. Os técnicos e a operação também são muito importantes. E esse diálogo é sempre focado na palavra e na presença do ator”, acrescenta.

Ed Moraes conta como esse processo criativo foi desafiador para sua carreira. “Em 20 anos no teatro eu nunca tinha feito nada parecido. Quando Michelle chegou com esse texto pronto eu fiquei apavorado. Quando acabei de ler tive uma crise de choro. Na hora entendi que o que tanto buscava, estava ali em minhas mãos. Porém, existia esse desafio, que era um mergulho de um ator, dentro dos fatos vividos por Harvey, ora flertando ser ele e ao mesmo tempo com um distanciamento biográfico, pela não obrigação de interpretar o mesmo, dizendo a todo instante ‘Eu não sou Harvey’. São as memórias dele. Mas são as minhas, as nossas também. Cada um sofreu uma violência em certo nível, tanto ele como eu, e isso dentro de mim ecoa a todo momento. Então um caminho possível era surfar essa onda vertiginosa, de a todo instante ser ou não ser Harvey, sem me apegar a cronologia. Me dedico apenas a dizer aquilo que fora minunciosamente escrito. Respeitando cada respiro, cada pontuação, cada suspensão. Nada mais importava além de compartilhar essa experiência fantástica de se contar uma estória. E que estória…”, revela Moraes.

Serviço:

Eu Não Sou Harvey – O Desafio das Cabeças Trocadas
De 15 de fevereiro a 3 de março – Quinta à sábado 20h e Domingo 19h.
Ingressos: Gratuitos
Centro Cultural São Paulo (CCSP) – Sala Jardel Filho
Rua Vergueiro, 1000, Paraíso – Metro Vergueiro

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