Romance de estreia de Veronica Botelho confronta os estrangeirismos do mundo

Por Gabriela Reis

Crédito Bia Takiguti

Muito bem escolhido, o título do livro elucida esse desconforto que aflige a personagem durante todo seu desenvolvimento. Para ela, o verão brasileiro é algo desconfortável e interminável, como ela mesma diz: “verão o ano todo significava desejo de fugir. Escapar para lugares seguros, definidos no tempo e no espaço”. Seu desejo de deixar do clima brasileiro e buscar por algo mais concreto e delineado, reflete oconflito de emoções que a personagem vive no seio familiar.

Verão, portanto, tenta abordar diversas problemáticas diretamente atreladas à sociedade contemporânea, como racismo, xenofobia, relações familiares, além da desinformação e a intolerância a tratamentos psicológicos. São pouco mais de 150 páginas para tal feito, deixando o leitor preso numa afobação, junto à personagem, tentando descobrir verdades que, no fim, se arrepende de descobrir.

Também vale destacar, a duplicidades da linguística apresentada por Veronica Botelho no decorrer da obra. Numa empreitada audaciosa, a autora mistura diálogos em italiano (seguidos de tradução), quebrando o fluxo com o texto em português. Apesar de não ser algo inovador para a literatura – referência ao poeta contemporâneo Dougla Diegues, ou ao escritor J. R. R. Tolkien, com sua língua élfica inventada,  a sutileza do recurso não tira a fluidez do texto, apenas agrega à narrativa. A barreira da língua e o estrangeirismo da personagem são desenhados de acordo com a evolução de Rebecca ao aprimorar o seu conhecimento em italiano. 

Numa prosa leve, a obra nada mais é do que um drama psicológico, que exalta a bagagem acadêmica da autora. Rebecca, mesmo sem pertencer completamente a lugar nenhum, construe a própria família, cultiva amizades e determina o próprio futuro, como todos nós.

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