Por Letycia Holanda
A mesa “Uma Prisão Mortal”, realizada nesta sexta-feira (24), na Flip 2023, reuniu as escritoras Joice Berth, Manuela d’Avila e Denise Carrascosa para discutir a relação entre a literatura e as diversas formas de opressão que as mulheres enfrentam no Brasil.
Em suas falas, as três autoras destacaram a importância da literatura como uma ferramenta de resistência e transformação.
A literatura, segundo elas, pode ajudar a visibilizar as experiências das mulheres, denunciar as violências que elas sofrem e construir novos imaginários para o futuro.
Em sua fala, Manuela d’Avila, escritora e ex-deputada federal, sugere a construção de novos vocabulários para falar sobre as experiências das mulheres, assim como, a literatura na politização das experiências pessoais. Para ela, a linguagem é uma ferramenta de poder e, por isso, é importante rever o significado das palavras para desconstruir os sistemas de opressão e pautar a agenda pública.
“A minha decisão de passar a escrever tem relação com o lugar que eu queria colocar para a literatura depois do quê nós vivemos e como vivemos coletivamente no nosso país (em 2018). Eu decidi que iria contar as histórias a partir dos livros, porque isso tem uma relevância para que a gente consiga interpretar o Brasil de uma maneira diferente. Para transformar e chegar a lugares diferentes do que nós chegamos, ou seja, colocar a literatura dentro de um lugar relevante, de pessoas que são julgadas relevantes”, conta.
Para d’Avilla, a literatura também pode ajudar a transformar as experiências individuais em experiências coletivas, o que é fundamental para o processo de luta por direitos. “Eu tratei de politizar a minha experiência pessoal, politizar no sentido de deixar de ser individual e mostrar que essa era uma experiência coletiva”
Denise Carrascosa, escritora, pesquisadora e organizadora do livro “Firminas em Fuga”, publicado pela Editora Ogum’s, falou sobre a experiência de mulheres encarceradas que escrevem literatura. Segundo Carrascosa, a literatura é uma forma de resistência para essas mulheres, que estão presas, invisibilizadas e de certa forma têm suas vozes emudecidas.
“Nós começamos a fazer o processo que sempre foi a minha utopia durante 20 anos. A ideia era que essas mulheres escrevessem e publicassem. Então, essa série das “Firminas em fuga” é uma coletânea trabalhada com essas mulheres na base do processo de criação literária, para que elas possam expressar essa perspectiva, que é um dos pontos cegos mais estratégicos da construção desse país”.
Carrascosa enfatiza que mesmo esse cenários de “tortura a corpos de mulheres negras”, elas estão resistindo por vários caminhos, mas principalmente pela escrita.
As falas das três autoras convergem para a ideia de que a literatura é uma ferramenta poderosa que pode ser usada para um processo de libertação da subjetividade masculina. Ideário que a escritora Joice Berth, autora do livro “O que é feminismo?”, vai além ao utilizar e definir um conceito que ela chama de sismografia literária.
“A escrita não só representa a vida e o que a vida é. Ela produz abalos na vida. A escrita literária que enxerga o mundo através dos seus pontos cegos, através suas fraturas, das suas emoções e vai além de onde ninguém tá enxergando, ela precisa abalar e tirar a gente do lugar de conforto. É isso que quando você fecha o livro, fecha o poema e a gente diz: mudou meu mundo”, declara Berth.
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