A voz de cristal transparente agora canta em outra dimensão

Por Rui Santos

Quando soube que ficou grávida, D. Mariah Costa Penna passou a ouvir música clássica sistematicamente para que que a criança nascesse com uma influência musical. Hoje sabe-se que a ciência comprovou que a fase da gravidez tem grande influência na formação dos bebês, mas qual foi a grande surpresa que esta criança, mais tarde, seria conhecida como Gal Costa, considerada uma das cantoras mais afinadas, imitadas e influentes do Brasil.

Uma voz afinada sem uma pessoa de atitude se compara a goiabada sem o queijo. Não bastasse o talento nato, Gal foi uma artista que acompanhou e esteve sempre antenada às diversas etapas de sua geração.

Uma das primeiras a seguir o canto pequeno e contido de João Gilberto, se engajando no movimento Tropicália, ao lado dos amigos-irmãos de toda uma vida, Caetano e Gil. Com Maria Bethania, os quatro viriam formar os Doces Bárbaros, em 2 ocasiões. Em 1976, uma iniciativa da irmã de Caetano para celebrar os 10 anos de carreira individuais do quarteto e, posteriormente, em 2002, num outro grande encontro.

Gal foi a favorita de Tom Jobim. Sua voz influenciou trilhas e trilhas, desde a maviosa Gabriela de Sônia Braga, em 1975, até o grito de guerra Brasil, de Cazuza, na abertura da clássica e contestadora Vale Tudo, de 1988, escrita por Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva.

No texto em que apresenta Recanto, um excelente trabalho autoral de Caetano interpretado por sua musa, lançado em 2011, o compositor refaz um pouco da trajetória da cantora, afirma que Gal foi a figura mais emblemática da canção brasileira nos últimos 50 anos, representando com sua voz todos os estilos.

Até o fim da vida, interrompida sem graça e sem vontade, foi assim. Com a voz envelhecida, Gal nunca lamentou a juventude passada, a potência perdida, as falhas e rouquidões. Afinal, “Tudo dói”. Porém, ela incorporou esses novos ingredientes e nos apresentou uma cantora viva e ainda com muita lenha pra gastar.

Meu primeiro registro de Gal foi com “Festa do Interior” (Abel Silva e Moraes Moreira), trilha sonora das festas juninas organizadas pelos vizinhos. E, para encerrar o ciclo, escolho “Sublime” (Dani Black), do teu último álbum em estúdio, que achei bem bacana e bem dançante.

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